Puladores de roletas, crianças acima de cinco anos que “mergulham” ou pulam a catraca, pessoas que têm direito à gratuidade de passagens; sem falar na proliferação do transporte clandestino de passageiros por mototáxi em Linhares, são práticas que desestruturam o sistema de transporte público. Confira entrevista com o diretor administrativo da Viação Joana Darc, Antonio Comério, que fala, ainda, da quantidade de passagens que não são cobradas no momento que a pessoa passa pela roleta, mas que de graça não tem nada:
Quantas viagens são realizadas por dia pelos ônibus nas linhas dentro de Linhares e Linhares/Sooretama?
São realizadas diariamente 1.575 viagens nas linhas municipais e 112 viagens na linha intermunicipal (Linhares x Sooretama). Totalizando o número de 1.687 viagens diárias.
Desse total, quantos passageiros em média (ou exatamente) têm direito à gratuidade (idosos, deficientes, etc)?
Já foram cadastrados até o momento pela empresa 9.167 cartões gratuidade, sendo 8.037 para idosos, 980 deficientes físicos, 16 cartões de acompanhantes da escola mantida pela Sociedade Pestalozzi de Linhares e 78 cartões de funcionários da prefeitura.
O sistema de monitoramento da Viação Joana Darc em Linhares já registou no primeiro até o mês de maio, 579.947 passagens gratuitas no Transporte Público Municipal de Passageiros. O número é baseado nos passageiros que passam pela catraca, com a utilização do cartão gratuidade e do benefício da integração de linhas.
No ano passado, foram contabilizadas cerca de 1,5 milhão de passagens gratuitas no Transporte Público Municipal de Passageiros por Ônibus. Foram 1.446.668 gratuidades, sendo: 895.089 gratuidades de idosos, 118.931 pessoas com deficiência, 42.596 alunos e acompanhantes da escola mantida pela Sociedade Pestalozzi de Linhares, 8.602 passes – livres para funcionários da Prefeitura.
O número de gratuidades ficaria ainda maior se fossem contabilizados os passageiros que não passam pela catraca e assim não entram na contagem do sistema, como as Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, carteiros, idosos e deficientes com locomoção reduzida, crianças menores de cinco anos, e os estudantes, que gozam do benefício da meia tarifa, ou seja, só pagam 50% do valor da passagem.
E os puladores de roleta/catraca? Em média, as câmeras flagram quantas ações por dia ou mês nos coletivos?
Só no mês de maio deste ano foram registrados 450 casos de pulo de roleta no transporte público em Linhares. Em 2016, foram registrados pelo monitoramento da empresa 3.350 vezes o crime de pulos das roletas. Há que se ressaltar que esses casos foram detectados pelo sistema de video - monitoramento dos ônibus, contudo, como são mais de 4 mil horas de registro de imagens por dia, fica impraticável se analisar todo esse tempo. Assim podemos afiançar que existem bem mais pulos de catraca do que os números acima detectados.
E as crianças acima de cinco anos? Quantas em média são registradas pelas câmeras mergulhando ou pulando a catraca?
Ainda não temos estes dados compilados, mas são muitos casos por dia.
Mas a empresa não pode fazer alguma ação para pelo menos diminuir esses atos por parte dos passageiros?
A empresa conta com 3 a 4 câmeras de videomonitoramento em cada ônibus com o objetivo de inibir qualquer ação criminosa dentro do coletivo. Todas as imagens de crimes são encaminhadas para a polícia para auxiliar na investigação e prisão do meliante. Além disso, a empresa realiza diversas campanhas de conscientização e encaminha informações sobre a evasão para autoridades da região na busca de sensibilizar os órgãos competentes para o combate a este mal.
E quem paga essas passagens no lugar dos contraventores e dos que têm direito à gratuidade?
Muitas pessoas são beneficiadas por leis que asseguram as gratuidades, porém não indicam a fonte de custeio. As leis beneficiam várias categorias com a isenção de tarifa, mas não indicam quem vai arcar com este custo. Dessa forma, uma parte é suportada pela empresa e outra parte do valor das gratuidades acaba recaindo sobre o valor da tarifa que é paga pelo passageiro para a manutenção do equilíbrio econômico – financeiro do contrato.
Outra prática que também desestrutura o sistema de transporte público é a proliferação do transporte clandestino de passageiros por mototáxi em Linhares. Com a concorrência predatória, os sistemas convencionais perdem demanda rapidamente e são obrigados a diminuir a oferta, comprometendo frequência, itinerários e qualidade do serviço.
Outro impacto negativo é sobre os compromissos sociais garantidos no transporte público para idosos, deficientes físicos e estudantes. Havendo redução do serviço, essas categorias encontrarão dificuldades para locomoção, principalmente para aquele que não dispõe de alternativa. Desta forma, todos serão penalizados, principalmente os usuários de baixo poder aquisitivo que terão que arcar com possíveis aumentos na tarifa do transporte público, em função da queda da demanda.
A utilização desenfreada do mototáxi, segundo especialistas, ainda vai causar um grande colapso no sistema de saúde pública. À medida que os índices de acidentes no trânsito aumentam com a proliferação do serviço, haverá uma maior demanda de recursos hospitalares. A cada 100 acidentes com motos, há 71 com vítimas. Com automóveis, essa proporção é de 100 para 7.
Neste ano, o município de Linhares tem registrado com frequência acidentes envolvendo motociclistas. Quase mil vítimas de acidentes com moto já procuraram atendimento no Hospital Geral de Linhares. De janeiro até junho, foram gastos R$ 2,8 milhões no local com esse tipo de paciente. Por mês, são, pelo menos, 150 pessoas, que buscam atendimento no local e foram vítimas de acidente de moto.
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