As cidades pequenas continuam chamando a atenção de empreendedores que planejam expandir seus negócios. A Associação Brasileira de Franchising (ABF) registrou crescimento no interior de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná de 2%, 4% e 6% respectivamente, no primeiro semestre de 2024 comparado ao mesmo período do ano passado.
Para o especialista em franchising, Vinicius Barreto, vice-presidente da vertical de Scale Up da 300 Ecossistema de Alto Impacto, antigamente era comum os negócios serem concentrados em grandes cidades, mas percebemos uma mudança nisso devido a possibilidade de empreender através das microfranquias. “As regiões interioranas estão se tornando atrativas para negócios que são mais enxutos e acessíveis financeiramente, pois conseguem se adaptar melhor à realidade local. No entanto, antes de investir nesse modelo, é preciso ter um trabalho de inteligência de mercado, entender sobre a classe social, potencial de consumo, concorrentes e o poder na região, além de conhecer a cultura local. Se atentar em buscar redes estruturadas, com respaldo aos franqueados com consultoria, pois isso faz a diferença para o resultado. É preciso ter em mente que independentemente do valor investido, é preciso trabalhar e se organizar para um bom desempenho”, comenta.
Para Eleandro da Costa, CEO e sócio da Jumper! Profissões e Idiomas, uma rede de ensino que conta com mais de 40 cursos profissionalizantes e de língua estrangeira, o caminho da expansão no interior é a estratégia usada por muitas franqueadoras nos últimos anos e que tem mostrado resultados positivos.
“Antes todo mundo queria só cidade grande, mas ficou muito batido. Municípios menores têm muitos pontos positivos, o primeiro é justamente o relacionamento com o cliente. O marketing no interior é mais fácil de ser feito, você tem acesso a vários veículos de comunicação por um valor não tão alto como nas grandes capitais. Colocar um outdoor na cidade grande é caro, na rádio muitas vezes não dá o resultado esperado e fazer publicidade na TV, é caríssimo também. Já nos locais com menos habitantes o rádio funciona muito bem, o outdoor é mais barato, você pode participar de vários eventos e consegue estar mais próximo da comunidade, o que é muito importante. Para a franquia ter sucesso é preciso estar envolvido com aquela região”, diz o CEO.
Esse envolvimento permite que a rede esteja em contato com as pessoas, participem de eventos filantrópicos, donativos, corridas e festas beneficentes para angariar fundos para instituições sem fins lucrativos e criar mais relacionamento com os moradores da região. Fazer contratações de pessoas e descobrir novos talentos também é outra vantagem que o CEO e sócio da Jumper! Profissões e Idiomas pontua:“Na cidade pequena é mais fácil de você conhecer as pessoas, ter referência sobre elas e isso facilita a contratação, mas claro que isso pode variar de nicho para nicho. Nós temos franquias em municípios que tem 10 mil habitantes e tem um resultado extraordinário. Hoje, o maior faturamento da rede está em cidades do interior ", diz Eleandro.
Em qualquer modelo de negócio, achar o ponto ideal para abrir uma franquia continua sendo um dos trabalhos mais árduos e desafiadores, segundo Cristiano Hoffmann, sócio e COO da DoctorFit, uma rede de estúdios de treinamento personalizados.
“Cada vez mais as pessoas se deram conta que o exercício físico deixou de ser commodity e transformou-se numa necessidade real, onde cada vez mais começou a ter estúdios, pois agora as pessoas não buscam locais com grande concentração de pessoas, mas sim, espaços com menor número de pessoas e mais qualidade de atendimento. No interior, temos ficado surpresos ao encontrar essas mesmas boas salas a custos bem menores quando comparado a centros grandes”, explica Cristiano. Num comparativo simples, se uma sala média de 100 metros quadrados numa cidade de 500 mil habitantes custa em torno de R$ 5.000 reais, um local abaixo de 50 mil habitantes oferece essa mesma sala num custo médio de até R$ 2.500: “Lógico que existe uma diferença de ticket médio do cliente no interior para um grande centro urbano, mas se você pensar uma poupança de 12 meses vezes R$ 2. 500, estamos falando de R$ 30.000 no seu bolso ao final do ano”, explica o COO da DoctorFit.
Já quando o assunto é a retenção de clientes, Cristiano diz que cidades menores possuem uma característica peculiar. Como na maioria das vezes as pessoas se conhecem de outros locais, no interior, essa relação pessoal na hora da decisão de onde treinar e onde permanecer é de extrema importância e faz a diferença.“Claro, isso funciona desde que você ofereça um bom serviço. Como estas regiões possuem uma menor quantidade de concorrentes, seu cliente acaba colocando muito na balança seu serviço e relação e não a procura por outro local de treinamento, visto que não se possui muitas experiências”, diz.
Já para Juliana Pitelli, sócia e diretora de expansão da Maria Brasileira, maior rede de limpeza residencial e empresarial do país e eleita destaque como Franqueadora do Ano pela Associação Brasileira de Franchising, o crescimento nas pequenas cidades é uma estratégia crucial para o fortalecimento da marca dentro do Brasil. Com planos de expansão para cidades de até 50 mil habitantes, a rede possui modelo de negócio sem necessidade de ponto comercial, o formato home based. “Nosso formato se adequa a cidades de todo porte e enxergamos potencial nesses milhares de municípios de até 50 mil habitantes, pois nossos serviços têm um nível de recorrência muito alto, não enfrentam sazonalidades e são cidades que performam muito bem”, completa Juliana.
Para ela, uma grande vantagem dos pequenos centros é o boca-a-boca. “Geralmente o franqueado gasta menos com marketing, porque as indicações contam muito. O networking da pessoa é muito maior, então ele acaba saindo um pouquinho na frente nesse sentido. Se é uma pessoa que já possui conhecimento local, ele consegue parcerias de forma mais fácil e acaba tendo um apoio da cidade de uma maneira mais calorosa do que em grandes metrópoles”, explica a executiva.
Já a Vaapty, líder do franchising no segmento de intermediação de venda de veículos do Brasil, nasceu em Maringá, no Paraná, e chegou a marca de 115 unidades abertas em todo o país. Fundada em 2020 pelo CEO Ycaro Martins, com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo, a empresa busca inovar, tornando a negociação de carros mais segura e sem burocracia, com vendas realizadas em até 40 minutos. De olho nas possibilidades de fazer bons negócios no interior, a franquia pode ser aberta em cidades a partir de 50 mil habitantes, em todo o país. De olho em Minas Gerais, a rede já está com 11 unidades em funcionamento na região, incluindo cidades menores e na capital. Outras cinco estão em processo de implantação mas, ao todo, já são mais de 300 unidades vendidas em todo o país. Até 2025, a Vaapty planeja chegar em 20% de market share, com uma análise de expansão no mercado automotivo.
Por Daniele Dutra
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